sexta-feira, 13 de março de 2009

Obtenção de matéria pelos seres heterotróficos multicelulares

Os seres heterotróficos necessitam de obter matéria orgânica do meio ambiente, já que não a conseguem produzir. Esta matéria orgânica é ingerida sob a forma de nutrientes que podem, depois, ser metabolizados em energia ou incorporados nas células.



A digestão intracelular ocorre no interior da célula e resulta da acção das enzimas hidrolíticas. Esta simplificação de moléculas (nutrientes) ao nível celular está, normalmente, associada à fagocitose.

Os seres pluricelulares alimentam-se de macromoléculas que necessitam de sofrer digestão extracelular antes de serem absorvidas. Para tal, os organismos mais desenvolvidos possuem sistemas digestivos que, apesar de se encontrarem no interior do organismo, são a continuidade do meio externo.

O tubo digestivo pode ser:

**Incompleto - possui apenas um orifício, que funciona como boca e como ânus. O alimento é ingerido através desse orifício, entra na cavidade digestiva, onde é digerido por enzimas, é absorvido e os restos da digestão são eliminados pela mesma abertura.
**Completo - possui duas aberturas, uma boca e um ânus. O alimento desloca-se apenas numa direcção, ocorrendo uma digestão sequencial e a absorção dos nutrientes.



O processo digestivo normal é constituído por uma ingestão, um transporte e armazenamento, uma digestão, uma absorção e finalmente por uma egestão.

O local onde estas etapas decorrem depende do animal em causa, pois, por exemplo, uns não possuem qualquer cavidade digestiva, outros possuem uma cavidade simultaneamente digestiva e vascular e os mais evoluídos possuem cavidades digestivas especializadas.

O sistema digestivo, dos animais que o possuem, é constituído por diferentes zonas, onde estas funções possam decorrer, pelo que apresenta uma região receptora, uma região de transporte e de armazenamento, uma região de digestão e absorção e uma região de absorção de água e de concentração de resíduos.

Da mesma forma que os animais diferem uns dos outros, também as suas necessi­dades nutritivas são diferentes, pelo que diferentes são os seus sistemas digestivos.

Os principais passos evolutivos dos sistemas digestivos e as suas vantagens são:

**A digestão deixa de ser intracelular, passando a ser extracelular. Este facto implica a existência de uma cavidade digestiva, pelo que o animal pode ingerir uma maior quantidade de alimento de cada vez, obtendo uma maior quantidade de nutrientes, que lhe permitem alcançar uma taxa metabólica mais elevada. Além disso, não necessita de estar continuamente a ingerir alimentos, pois estes ficam em reserva durante algum tempo.
**Surge uma cavidade digestiva e com ela uma boca (sistema digestivo incom­pleto, já que só possui uma abertura), permitindo um maior e melhor aproveita­mento dos nutrientes.
**Surge o sistema digestivo completo, isto é, possui pelo menos três órgãos; boca, que permite a ingestão, intestino, que permite a digestão e a absorção, e ânus, que permite a egestão, possuindo deste modo duas aberturas. Surge assim a sequenciação e a simultaneidade das fases digestivas, pois a partir deste momento existe apenas uma direcção de funcionamento. O animal pode simul­taneamente estar a ingerir alimentos, a digeri-los, a absorvê-los e até a eliminá-los, já que estes seguem apenas uma direcção.
**A digestão pode ocorrer em mais do que um órgão (estômago e intestino), o que aumenta a sua rapidez, logo a quantidade de nutrientes absorvidos.
**A absorção também é mais eficiente, pois realiza-se ao longo de uma maior superfície.
Aumento da área interna no intestino. O tiflosole nos Anelídeos e as vilosidades intestinais nos Mamíferos aumentaram a área interna do intestino delgado, logo a sua taxa de absorção, e, por isso, o seu metabolismo.
**Aumenta o número e a diversidade de glândulas digestivas, elevando a quanti­dade e a variedade das enzimas digestivas.
**A quantidade e variabilidade enzimática aumenta, o que permite uma digestão mais eficaz e um melhor aproveitamento dos nutrientes.
Surgem órgãos ou estruturas cada vez mais adaptados ao tipo de alimento. As Aves possuem bico e não possuem dentes, pelo que, as granívoras, vão possuir papo e moela, com a finalidade de amolecerem os grãos que comem e de os digerir.
**Os animais menos evoluídos apresentam um sistema digestivo mais simples, ou nem o possuem, enquanto que os animais mais complexos possuem um sistema diges­tivo também mais complexo.

Os animais dos Filos dos Cnidários - Anémona, Hidra - e dos Platelmintes - Planária - pos­suem um sistema digestivo incompleto, isto é, com uma só abertura, que funciona simultaneamente de boca e ânus, associada a uma cavidade gastrovascular.



a cavidade gastrovascular, como o nome indica, funciona como órgão digestivo (gastro) e como óígão de distribuição (vascular), ocorrendo nela uma digestão extracelular dos alimentos efazendo chegar o seu resultado às células. Estes animais não possuem sistema circula­tório devido à existência desta cavidade que, associada à grande área destes animais quando comparada com o seu volume, lhes confere uma eficiente superfície de trocas. Também possuem uma digestão intracelular e uma digestão extraceluiar. Nos Cnidá­rios, a digestão intracelular é mais importante que a digestão extraceluiar, no entanto, nos Platelmintes, a cavidade vascular muito ramificada permite a ocorrência de uma maior quantidade de digestão extraceluiar em relação à digestão intracelular. Nos Cni­dários, o alimento entra através da boca, com a ajuda dos tentáculos, para a cavidade gastrovascular. As células glandulares da gastroderme exocitam enzimas digestivas para esta cavidade, ocorrendo uma digestão extraceluiar, sendo posteriormente fagocitado para as células digestivas da gastroderme o resultado desta digestão. Nestas células digestivas, ao nível dos vacúolos digestivos, realiza-se uma digestão intracelular, sendo seguidamente os micronutrientes difundidos para as células adjacentes. Nos Platelmin­tes o processo é semelhante, não contando estes animais com a ajuda dos tentáculos para ajudar a ingestão, mas antes com uma faringe que se projecta para fora da boca. Os produtos de excreção, nos dois filós, são exocitados para a cavidade gastrovascular e posteriormente para a água.

Os animais a partir do Filo Nematelmintes, inclusive, possuem um sistema digestivo completo, isto é, com duas aberturas - a boca e o ânus -, apresentando também um cada vez maior número de órgãos e uma maior especialização destes.

Os animais do Filo dos Anelídeos - minhoca, sanguessuga - apresentam um sistema digestivo dife­renciado em várias regiões especializadas.



Os alimentos entram pela boca, após terem sido sugados pela faringe, deslocando-se ao longo do esófago até ao papo. No papo são armazenados, seguindo posteriormente para a moela, onde são digeridos mecanica-mente, sendo digeridos quimicamente no intestino
A absorção intestinal é mais eficiente que nos filos hierarquicamente inferiores, pois possui um tiflosole, uma prega intestinal, que ao aumentar a área interna do intestino aumenta a sua área de absorção. Os resíduos; alimentares são excretados através do ânus.

Os Vertebrados possuem um tubo digestivo completo, duas glândulas digestivas, ligadas ao intestino (pâncreas e fígado), podendo possuir ainda outras glândulas, tais como as salivares. A constituição e o funcionamento do sistema digestivo dos Vértebrados são semelhantes em todas as classes, apresentando algumas modificações como forma de superar as suas diferenças alimentares.

As aves granívoras, tais como as restantes, possuem um bico sem dentes, pelo que não há mastigação dos alimentos. Aquelas que se alimentam de grãos terá necessariamente de possuir um processo digestivo diferente do das aves carnívoras.
As aves que se alimentam de grãos secos e duros terão que inicialmente os amolecer no papo; no proventrículo sujeitar-se-ão à acção das enzimas e do suco gástrico aí produzido, sofrendo posteriormente uma digestão mecânica ao nível da moela. Para permitir uma digestão mecânica mais eficaz, estas aves ingerem grãos de areia que vão efectuar! uma acção abrasiva na moela, que por sua vez possui um tecido muscular muito espesso e uma parede interna rugosa, de forma a permitir uma trituração mais eficaz.
Os alimentos sofrerão o final da sua digestão no intestino, com a ajuda do suco pancreátii e do suco biliar. A eliminação dos resíduos alimentares ocorre através da cloaca (cavidade comum aos sistemas digestivo, excretar e reprodutor). O tubo digestivo de uma ave carnívora não necessita de papo nem de moela, pois os seus alimentos, como possuem menor dureza que os grãos, vão sofrer digestão no estômago, que possui um sói compartimento e paredes finas e elásticas.
Os Mamíferos possuem um sistema digestivo adaptado ao seu regime alimentar, de forma a permitir uma fácil absorção.



Estes animais, carnívoros ou omnívoros, possuem um estômago semelhante ao das aves carnívoras, com um só comparti­mento (monogástrico) de paredes finas e elásticas, onde são lançados ácido clorídrico e suco gástrico com as suas enzimas digestivas. Para evitar a corrosão das paredes internas, o estômago está revestido por uma película de mucina



O seu intestino delgado é um grande centro de digestão e de absorção, possuindo para esse efeito as suas parede internas recobertas por uma infinidade de vilosidades intestinais e de glândulas intesti­nais. As glândulas intestinais, ao produzirem suco intestinal com enzimas, aumentamo poder digestivo do intestino delgado, enquanto que as vilosidades intestinais, ao aumen­tarem a área intestinal, aumentam a capacidade de absorção. É ao nível das vilosidada intestinais que se efectua a absorção dos micronutrientes. Os produtos resultantes digestão dos lípidos são absorvidos para os vasos quilíferos (capilares linfáticos), enquanto que os restantes micronutrientes são absorvidos para os vasos capilares



Se o Mamífero é herbívoro, o seu estômago é maior, possui quatro compartimentos (digástrico), já que estes animais necessitam de ingerir uma grande quantidade de alimentos, necessitando de espaço para os armazenar, fazendo-o numa das zonas do estômago. O intestino delgado apresenta um maior comprimento para, tal como no estômago, per­mitir a actuação de bactérias sobre a celulose dos vegetais, já que esta não possui uma enzima específica para a sua digestão química. Ao nível do intestino grosso ocorre uma acumulação de resíduos alimentares e uma absorção de água, facto que nos animais ter­restres é muito importante.